Posts Tagged ‘infância’

Gostaria de compartilhar

18 de setembro de 2010

Certas músicas, cheiros e situações conseguem me fazer viajar pra lugares totalmente distantes. E quando digo ‘distantes’ falo de tempo também. Hoje cheguei em casa, abri a geladeira e me deparei com um pote cheio de jabuticabas. Me lembrei de quando todos os tios e primos se reuniam na casa da minha vó. Todo mundo novinho, subíamos nos muros das casas pra roubar goiaba. Comíamos ata e caju. E caju tinha que comer de calcinha, pra não manchar a roupa. É engraçado lembrar, acho até que naquela rua todo mundo passou pela fase de andar sem roupas. Mais engraçado é pensar que todo mundo cresceu e lembra dos outros andando daquele jeito, haha. Grande coisa. Lembro que no calor de Bela Vista, a gente enchia uma piscininha de plástico e entrava aquele pelotão de primos dentro. Sem contar o banho no tanque, que aliás, acho que é outra coisa que todo mundo por lá já fez. Esperávamos naquelas tardes quentes e sem vento algum, o velhinho do picolé ou do sacolé passar e comprávamos montes e montes, para durar a tarde inteira. Comíamos xipa e me dá até água na boca só de imaginar aquele ‘pão de queijo crocante’. De vez em quando íamos nadar no Apa, naquela época eu ainda não tinha medo de arraia e nem fazia idéia de que elas existiam por lá. Certa vez fizemos uma ‘torre humana’ tão grande, umas quatro ou cinco pessoas. É, talvez não fosse tão grande assim, mas quando a gente é pequeno tudo parece ser maior… falando em tamanho, a vizinha da minha vó foi um dos grandes questionamentos da minha infância. Em uma cidade que faz um calor digno do inferno, ela era a única a ter uma piscina enorme no quintal. Pra que? Só a vi cheia uma vez. Diziam que gastava muita água para encher, mas isso nunca me convenceu. Essa vizinha era do Paraguai, e fazia uma sopa paraguaia digna de deuses. Nossa, como esquecer de como era divertido pensar que em menos de um minuto, até caminhando, podia-se estar em outro país? Não que Bella Vista Norte fosse a imagem de viagem ao exterior, cidade pequena e pobre. Mas com coca-cola em mini garrafas! E com chicletes de bolinha colorida e video games. Isso era suficiente. Lembro da época em que comecei a aprender a andar de bicicleta, na rua de terra. Isso me lembra que já levei muitos tombos e me ralei muito por lá. Depois asfaltaram, pra que? Pra ver o asfalto derreter, literalmente. Me sinto tão idiota falando sobre ruas e comidas de que sinto falta, mas ‘recordar é viver’, e só de olhar, de sentir o gostinho daquelas jabuticabas, essas trinta e quatro linhas vieram à minha cabeça. Só queria compartilhar.

E não colocarei parágrafos, porque como dizia José Saramago, eles interrompem o fluxo de pensamento.

Criar laços?

6 de setembro de 2010

 
o-pequeno-principe

Raposa:
Significa criar laços…
Príncipe: Criar laços?
Raposa: Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo.

                                              O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupèry

Senti uma boa saudade agora. Foi o primeiro livro que li, depois li mais algumas vezes e o perdi. Com sete anos a parte da raposa era a que eu menos entendia. Eu não sabia o que era ‘cativar’. Talvez eu deveria ter procurado saber antes, só hoje ‘és eternamente responsável por aquilo que cativas’ faz algum sentido para mim.

‘Oh, que saudades que tenho…’

11 de abril de 2010

   Estava começando a escrever um post agora há pouco e me lembrei de algo que estudávamos em literatura faz algumas semanas. Como é comum, como é um hábito nosso (ou meu?) pintarmos a imagem de passado perfeito, ‘eu era feliz e não sabia’. Se não me engano, isso é coisa de Casimiro de Abreu (tenho anotado, há!) mas vamos relevar, não estou aqui pra escrever texto culto nem coisa parecida. Quando alguém fala em infância por exempo, oito de dez (segundo as minhas pesquisas, cof cof) pessoas largam um suspiro e dizem sentir saudade dos ‘bons tempos’.
   Na verdade, cresci com a minha mãe dizendo como era bom ser criança, como ela sente falta, blá blá blá. Sim, lindo, mas ninguém lembra nessas horas que a gente não podia sair, tinha que aturar chantagens e birras de irmãos mais novos, etc. Mas o pior é que eu faço isso, e não só com infância, eu fico remoendo passado de dois anos atrás, de dois meses atrás. Mania que tenho que largar definitivamente, ou talvez não. Será que é bom gravar diálogos, capturar imagens e ficar reconstituíndo ‘cenas’ na própria cabeça?
   Não sei, sei que eu me irrito comigo mesma, hipervalorizando as coisas que já foram. Mas se bem que as justificativas para isso não são ruins. O que fazer quando o teu futuro te dá medo, teu presente te aflinge e teu passado te conforta? É uma questão de escolha inteligente. Estou começando a dar um desconto aos escritores brasileiros, de todo mal eles não eram. (: